domingo, 19 de maio de 2013

25 de maio de 2011


Era uma quarta-feira, eu acho.  Quase dois anos de uma angústia lenta, corrompendo a cada minuto pequenas parcelas de uma luz chamada vida, que ele teimava em manter. Esperança era a sua palavra, dita todas as noites, antes de adormecer a meu lado (eu jamais consegui dormir antes dele). Esperávamos. Eu, do fundo da minha não crença, também esperava.

E se eu me sentia cansado, ele aliviava o meu cansaço com um sorriso. E se eu, vez por outra, chorava (escondido), ele sempre descobria e acariciava o meu rosto. E se eu ousasse, mesmo que por um minuto, fraquejar, ele, era ele quem, de não sei onde, arranjava forças pra me levantar. Como podia? Até hoje não sei.

Naquela quarta-feira, era bem tarde, ele teve uma crise horrorosa. Eu sai feito maluco (como sempre), disparado pelas avenidas de São Paulo. Ele pedindo que eu tomasse cuidado. Bem próximo de chegarmos ao hospital (pra quem conhece SP, era o Albert Einstein, no Morumbi) ele pediu que eu parasse o carro. A noite estava linda. Ele teve um acesso de tosse e recostou a cabeça em meu ombro. E não segurou a minha mão...

A cena toda voltou agora. Ela volta sempre. Sempre. Sempre.

Desculpe. Hoje não consigo mais...   

6 comentários:

  1. nesse agora só dá pra te oferecer um abraço, e gostaria mesmo de te dar um abraço, Adriano, seja bem vindo a blogosfera.

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    1. Ah, não tem nada melhor do que a energia que vem com um abraço! Saiba que me senti abraçado agora. Obrigado!

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  2. Olá! Sou o Leão (Cara Comum) amigo do Gato.

    Obrigado pela visita em meu blog. Respondi seu comentário por lá.

    Gosto de ler os blogs do início (cronológico) em diante, mas não queria comentar nada no seu blog antes de ler uns 4 ou 5 posts. Estava aproveitando que o sono não vinha para ler mais sobre vc. Agora o sono veio e o que posso dizer é que gostei do que li e que tudo me deixou com uma vontade de ler mais. Amanhã pretendo comentar direito! Só não o faço agora pq, pra quem tem insônia, o sono é sempre uma oportunidade a ser aproveitada!

    Abraços!

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  3. Boa noite Adriano,

    Vim parar aqui ao seu canto por acaso mas o título do blog logo me deixou com "a pulga atrás da orelha". Quando li este seu post, não pude deixar de ficar comovido. A forma como desabafou tem uma carga emocional tão grande que é impossível não ficar com uma lagrima no canto do olho. E apesar do desfecho final, que linda história de amor!!!

    Aproveito para deixar um abraço e enviar energias positivas para o que ainda estiver por vir.

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  4. Adriano, após ler todos seus posts, não tem como não deixar meu comentário aqui.Tenho 20 anos e tenho algumas coisas em minha vida muito parecida com a sua.
    Eu estive na batalha contra o câncer da minha mãe. Eu sei exatamente como é passar por casa sessão de quimioterapia, cada consulta de avaliação do progresso da doença, e dos momentos finais da pessoa. E agora fiquei com meu pai, que assim como eu senti nos seus posts, também apesar de sempre convivermos juntos, não somos muitos próximos, e infelizmente dependo dele financeiramente.
    Lendo o que você escreveu me deu um sentimento de esperança, sabe, de que um dia vai melhorar.
    Parabéns pelo blog, tudo de melhor por aí. Abração

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  5. «Quando morre um amigo, um pai, um irmão, a vida continua natural, com uma dor que vive apenas na consciência de quem ficou. Sofre-se, dói, confunde-se os caminhos, mas é o tipo de sofrimento que se entende. Vive-se um luto que é possível tornar racional. A vida perde algumas cores, algumas tonalidades, mas o coração continua respirando...»

    ...

    Por uma qualquer razão que, se calhar, apenas eu consigo tornar racional, creio que este primeiro texto acaba por se projectar no último que você escreveu - aquele de onde retirei o excerto com que inicio o meu comentário.

    Completam-se, não tarda muito, três anos, após a partida de minha mãe. O que me resta é uma espécie de sofrimento que não sou capaz de entender. Um luto, ou seja lá o que for, que não tenho como racionalizar. É verdade que o coração continua a bater, mas, no lugar onde deveria estar a alma, existe um vazio sem tamanho que não sei como preencher.

    Creio que compreendo o que se passa consigo. Talvez o futuro tenha deixado de prosseguir ao ritmo dos ponteiros do relógios. Ao folhear mecânico dos calendários. Talvez as palavras se tenham tornado insuficientes. Talvez elas próprias sejam agora inexistentes.

    Há algum tempo que "passeio" pelo seu blogue, em busca do silêncio que deixou de escorrer pelas paredes do meu quarto. Uma vez por outra - poucas, em todo o caso - deixei que as minhas pegadas aqui ficassem gravadas. Nada, porém, de muito consistente.

    Eu próprio acabei por criar um blogue, onde converso com minha mãe, sobre minha mãe, até para que os meus monólogos não se enroscarem na minha solidão. Já que acabei por ter acesso ao seu, parece-me justo facultar-lhe o endereço do meu. Talvez você, Adriano, ocasionalmente possa encontrar nele um pouco de sossego. Talvez o silêncio possa tornar-se menos denso.

    http://umolharsobreosilencio.blogspot.com

    Um abraço para si.


    André

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