segunda-feira, 28 de outubro de 2013

A Clockwork Orange

Não sei se é possível explicar a amizade, assim como parece não ser possível explicar o amor. Já ouvi dizer que na amizade existe o componente “escolha”, que não existe no amor. Poderíamos escolher um amigo, mas não um amor. Não sei, tenho dúvidas. Eu tendo mais a crer que a escolha faz parte de ambas as coisas. Deve haver uma afinidade especial entre o que somos e o que temos no outro (e vice-versa) para que surja a possibilidade da escolha. No fundo penso que o determinante de tudo é a escolha mesmo.

Assim como não acredito que podemos ter mais de um amor ao mesmo tempo, não creio que possamos ter mais de um amigo (estou falando de amigo, amigo mesmo!) também. Está parecendo radical, né? Explicando melhor: não consigo imaginar alguém que tenha muitos amigos verdadeiros, visto que a amizade verdadeira é um compartilhar que nos exige uma preocupação especial, que nos ocupa e não prescinde de nossa atenção, sempre que necessária. E não somos tão grandes ou temos tanto a partilhar que comportaríamos tantos amigos assim. Então, eles são poucos. E, dentre esses poucos, quase sempre um é o escolhido para ocupar um lugar prioritário.

Sabemos que nossa escolha foi acertada quando, no amor ou na amizade, nos momentos mais difíceis de nossas vidas, a presença dele (o amor ou o amigo) surge em sua forma mais absoluta. Não importando em que condições aconteça, em que ponto da nossa história nos encontramos, lá vem “ele”, de braços abertos, a nos acolher, sem pedir nada em troca, a não ser o que já estava pressuposto - a amizade ou o amor. Concordam comigo?

Pois é, eu tenho 4 amigos. Eles participam da minha vida, se fazem presentes, sempre que necessário, assim como eu me faço presente na vida deles. Mas tem um, um especialíssimo, que me acompanha há muito tempo e que nunca me faltou. Nesses últimos tempos, com essa instabilidade pela qual me vi sem forças para, eu próprio, resolver certas questões, ele praticamente se colocou à minha disposição para caminhar junto, amparar de fato, abdicando inclusive de algumas coisas que tinha pra fazer e que deixaram de ser prioritárias, em meu detrimento. Não tenham dúvida, isso é o maior presente que podemos ter em nossa vida!

Eu sempre costumo (ou costumava... rs) dizer que sou bem fortinho. Mas, tem horas que, até os muito fortes devem pedir arrego. E, nessas horas, não existe nada melhor que ter um alguém efetivamente capaz e disposto a facilitar esse nosso singelo pedido. Eu posso não ter feito muita coisa em minha vida, mas as minhas escolhas, no amor e na amizade, acertaram em cheio! Bem na mosca!

Desde quinta-feira passada me vi absolutamente dependente dessa grande pessoa. E foi tão maravilhoso que, na verdade, eu nem me dei conta que vivi essa dependência. Dá pra entender? Talvez tenha sido apenas o começo de um período em que precisarei mais ainda dele. Ainda não sei. Uma coisa é certa: se um dia ele precisar (tomara que não, nesse aspecto não) de mim, nem que eu tenha que virar o mundo do avesso, eu estarei lá, a seu lado.

Um vídeo (meramente ilustrativo... rsrsrs) de como se iniciou a “nossa” quinta-feira...


sábado, 5 de outubro de 2013

Recaída


Eu amo a minha casa! Ela é exatamente do jeito que sempre sonhei. É o lugar em que me sinto acolhido, repleto de memória em cada objeto, em cada detalhe, ao qual imprimi a minha “marca”. Eu posso dizer que, mesmo na total escuridão, eu consigo saber onde está qualquer coisa. Pelo tato, pelo cheiro, ou mesmo pela intuição, quando a memória falha em suas sensibilidades. Aqui eu passei os grandes momentos da minha vida. Os mais alegres e os mais tristes. Fora eu próprio, ela é a única testemunha das minhas dores, dos meus gozos, da minha história de amor.

Quando, depois de quase 3 anos em que nos conhecemos, ele finalmente se mudou pra cá, ao oferecer a ele a minha vida, concretamente eu abri esse espaço, que era só meu, num ato repleto de simbologia. Eu não apenas estava iniciando o compartilhamento dos meus sentimentos. Eu abria o meu corpo/casa pra ele! Eu propunha dissolver as lembranças, que eram apenas minhas, para que pudéssemos, num novo exercício de vida, refazer, uma a uma, em novas lembranças, agora de nós dois. E conseguimos! Hoje eu sei que tudo aqui não é mais apenas parte da minha memória, mas da nossa.

Eu não acredito (ao menos no “formato” em que é apresentado usualmente) em espíritos. Eu tendo a crer que, após a nossa morte, essa coisa imaterial que trazemos atrelada a nossos corpos (alma, espírito, força vital, o que seja), retorne ao seu “meio primordial”. Acho muito egocêntrico crer que o nosso espírito continue, após a morte física, carregando a nossa individualidade. Sei que esse assunto é complexo demais, nem é minha intenção discutir aqui sobre isso. E sei também que é uma questão de fé. Entendo que, para além da morte física, o que sobrevive são as memórias e a história em nossa consciência. E é justamente pela consciência, que a morte não consegue destruir, que continuamos unidos, agora pela consciência ampliada do ser.

Esta semana, por duas vezes acordei de madrugada. Perdi o sono. Pra quem acorda todo dia por volta das 5:30 e costuma dormir nem tão cedo assim (perto das 24 hrs), acabar se perdendo, com menos de 3 horas de sono, é complicado! E, como era cedo demais pra ir pro trabalho (rs) me vi em algumas divagações, cujo resumo acabei de escrever aqui pra vocês. Sozinho, num silêncio “ensurdecedor”, percorrendo com o meu olhar todas as minhas coisas e com a minha mente toda a nossa história, eu me senti como que aprisionado. Como se sentir preso num lugar que se ama tanto? Pois foi exatamente o que eu senti, nessas minhas crises de insônia.

Seria o momento de, num lance de arrojo, refazer tudo? Mudar daqui, começar a construir outro lugar, outra casa, outros objetos, outro espaço. Ou será isso inútil, visto que a essência do que fomos e vivemos está tão agregada a mim que não há como fugir disso? Será que, num novo espaço, a presença que tenho dele em mim conseguirá ser apenas uma memória sem dor?