Eu sei que pode parecer estranho, nesse tempo atual, tão
imediatista, tão “fast-food”, tão dominado pelo pragmatismo, digamos assim, alguém
como eu, que vive mergulhado nesse esquema todo, confessar publicamente (rs)
que gosta muito de certos “rituais” (ultrapassados?) de flerte, corte, namoro
e... de casamento. Aliás, pra quem lê com um pouco de atenção o que escrevo por
aqui, já deve ter percebido isso. Sei que existe um limite, uma linha
divisória, entre um ritual sincero e de coração e algo mais “comercial” e
forçado. E, portanto, vazio de sentido.
É muito tênue essa linha. Difícil trafegar por sobre esse ela... mas,
quando conseguimos, é tudo tão lindo!
Os amigos, dos tempos da minha juventude (tão longe isso...
rs) sempre diziam que eu “era pra casar”. Tudo bem que eu “aprontava” de vez em
quando. Mas, o que eu sempre quis era ter alguém pra caminhar junto,
compartilhar experiências, dividir pesos, somar alegrias, essas coisas. Quando
eu conheci o Zeca e fui percebendo que ele tinha um pensamento muito parecido
com o meu, a mesma forma de encarar as coisas, o mesmo jeito carinhoso de lidar
com as pessoas... nossa!... foi como ganhar na loteria! E os “nossos tempos”
batiam de uma forma tão harmonicamente compassada que, evidentemente haveríamos
de terminar em casamento. Como nem tudo é perfeito na vida, não tivemos um
casamento oficial, de “papel passado”. Em compensação... foram 5 casamentos extraoficiais
(rs), sempre como forma de revalidar todo o nosso sentimento, o nosso
compromisso tacitamente sempre declarado. O primeiro eu já contei aqui, foi na
Disney... essas coisas que ninguém acredita! Dos outros quatro (sempre engendrados
pelo elemento “surpresa”, e que era a melhor parte!) foi ele quem “organizou” o
terceiro.
Eu fui convidado para ser padrinho de casamento de um amigo
meu, em “parceria” com a irmã dele. E, como ele era divorciado e a noiva queria
casar no religioso, marcaram a cerimônia na igreja anglicana, que celebra
casamentos, mesmo de pessoas que se separaram legalmente. Os dois, ele e a
irmã, conheciam a minha história com o Zeca. Inclusive haviam levantado a
hipótese de sermos, nós dois, um “casal” de padrinhos. Eu achei que seria bem
bacana, nós dois de “pinguins-padrinho” no altar (rsrsrs), mas o Zeca achou que
seria forçar demais a “barra”. Acertados os detalhes (e que são muitos...),
alguns dias antes, o Zeca foi comprar a roupa dele e não quis que eu fosse
junto. Tudo bem, estranho, mas acontece. No dia do casamento ele cismou que não
iria no meu carro, que eu devia ir com a madrinha e ele iria no carro dele. Um
pouco mais de estranheza... sinceramente, eu não atinei que ele iria tramar
alguma coisa.
Estávamos, eu e minha parceira no altar, eu “metido” num
meio-fraque (não gosto nem um pouquinho, mas, sabem como é, a noiva queria...),
num papo informal e discreto, esperando a chegada da noiva, quando ela me diz:
“Olha quem vem chegando... contenha-se, ein!” Meu Deus! Era a visão do paraíso!
Ele estava com um terno cinza-claro, lindo, lindo... camisa branca e uma
gravata azul bem clarinho... era uma luz entrando na igreja! Comparar o
contraste era inevitável: eu, pele clara, numa roupa escura e ele, aquela cor
de jambo, numa roupa luminosa. Durante toda a cerimônia não consegui desgrudar
meus olhos dele! Não dá pra descrever a sensação. Era uma mistura de orgulho
por amar, angústia e medo de perder, vontade de parar o mundo, de fazer girar
mais rápido... estávamos casando, pela terceira vez, sem dizer palavra alguma,
apenas pela troca de olhares e de energia amorosa. Foi deslumbrante...
Depois da recepção (que passamos grudados, o desejo
explodindo tudo!) ele ainda me reservara um pouco mais de surpresa: ele havia
arrumado a mesa de casa com um arranjo lindo de flores, duas taças, um
champanhe, que ele sabia que eu adorava, e brindamos. Ele não era muito de
falar... se atrapalhava um pouco, principalmente estando emocionado. Naquele
dia, talvez aproveitando o “clima” da cerimônia anglicana, ele me disse algo
mais ou menos assim: ele queria que prometêssemos, não um amor eterno, um amor
“até que a morte separe”... ele queria que caminhássemos juntos, o mais
próximos possível, até um ponto em que, se algum de nós sentisse um peso maior
do que o tamanho do nosso amor, esse seria o ponto que determinaria o fim. Um
amor verdadeiro não poderia admitir o estar juntos, mesmo depois da morte dele
mesmo. Então, a morte do amor é que deveria determinar o fim de um casamento, e
não a morte física de um dos dois...
.......
... é, meu amor, essa foi mais uma das coisas que também não
deu pra cumprir. E assim foi, até que a morte nos separou...