domingo, 5 de janeiro de 2014

V1/VR


Na decolagem de um avião existe um ponto crítico de decisão, definido pela mínima velocidade a partir da qual a decolagem pode ser continuada com segurança, dada a distância do ponto da decolagem efetiva, combinada com a velocidade máxima, a partir da qual a aeronave não pode mais ser parada. Parece complicado. E é! Ainda mais que essa decisão entre decolar ou abortar está exclusivamente nas mãos do piloto. Pouco entendo de aviação, mas sempre trago comigo essa ideia, fundamentando a prática das minhas ações mais importantes. Já decolei e abortei decolagens muitas vezes e sempre me achei “mestre” no assunto, talvez por compreender que isso nada mais é do que se guiar, única e exclusivamente, pela razão.

Longo preâmbulo... pode ser que, para a maioria das pessoas, aquilo que eu pretendo escrever nem implique em tanto cuidado. Eu devo ser uma pessoa muito complicada e que, sei lá, talvez precise de algum tipo de ajuda psicológica. Ultimamente tenho pensado muito nisso. Saber que não se pode ter o controle de tudo, muito menos da nossa vida, isso anda fazendo com que eu repense algumas coisas. Bem, vamos aos fatos.

O natal foi surpreendentemente bom pra mim. Como eu iria passar apenas com o Claudio aqui em casa, os meus amigos “mais chegados”, antes de irem para suas respectivas famílias, deram uma passada por aqui. A princípio fiquei maluco, pois tive que organizar alguma coisa de última hora e isso sempre é complicado pra mim. É a tal mania de planejar! No final correu tudo de forma excelente, com o pessoal se despedindo bem tarde. Foi um natal totalmente diferente de todos os que eu já tive. Com mais pessoas, na minha casa, uma sensação nova e muito boa.

Nos dias seguintes, quando eu já me preparava pra passar o réveillon no meu modo “padrão”, outra surpresa: dois amigos meus, casados, me convidaram (e ao Claudio) para passarmos na praia. Primeira reação... agradecer imensamente, mas... Depois (que estranha combinação astral estaria provocando isso?!), resolvi aceitar. Acho, inclusive, que essa minha decisão foi um dos fatores desencadeantes dessa anormal onda de calor que temos por aqui. Só pode, sair do padrão 2 vezes em tão pouco tempo!

Guarujá, um belo apartamento, de frente pro mar, tudo impecável, móveis, decoração (esse casal de amigos tem uma empresa de paisagismo), apenas um detalhe “destoante”: é um apartamento com 2 quartos. Logo... um para o casal e outro... Um sentimento de “estranheza” (essa é a palavra que primeiro surgiu em minha mente) me tomou: depois de muitos anos, mais de 12, eu iria dividir o quarto com outra pessoa que não o Zeca. Para quem não percebeu ainda, além de recatado (rs), sou muito formal, além de tímido. Interessante que é assim com as pessoas mais próximas a mim. Mais um ponto a esclarecer em alguma consulta psicológica.

Esclarecendo: eu conheço o Claudio há uns 20 anos, desde o tempo da faculdade. No início até que chegou a “rolar” um clima entre a gente. Com o passar do tempo, a amizade se consolidando, fomos nos tornando tão confidentes, tão um sabedor das alegrias e tristezas, um do outro, que talvez a palavra “irmãos” seja a que melhor define a nossa relação. E, vejam vocês, com tudo isso, apesar de tudo isso, eu “estranhei” que teria de dividir o mesmo quarto com ele! Entretanto, com o passar dos dias, eu tomei consciência de que tudo não passou de uma “bobeira inicial” da minha parte. Tudo corria da melhor forma imaginável, fomos nos tornando cada vez mais informais, e eu sentindo que estávamos, de fato, coroando o nosso relacionamento com o que faltava, que era o desarme total das últimas barreiras. Não sei se conseguem entender isso.

Na noite do dia 01, todo mundo mais que cansado, fomos todos dormir mais cedo. Eu e o Claudio “engatamos” a conversar e, quase “varamos” a madrugada, em um retrospecto dos melhores momentos da nossa vida. Quando dormimos eu pensei: nossa! eu não tive um irmão de sangue, mas Deus me deu um que vale por muitos! Eu estava feliz, muito feliz! Dormi feito um anjo! Dizem que depois da tempestade vem a bonança. Mas, também pode ocorrer o contrário!   

Dia 02, fomos dormir já bem tarde. Praia, sol, caminhadas... ando meio fora de forma. Ao me deitar, lembrei do meu colírio, que tem que ser usado, religiosamente, antes de dormir. Não estava na mesinha de cabeceira. O Claudio, como ainda estava se ajeitando, foi buscar na sala, onde eu havia esquecido. Nesse ínterim, acho que passou pela cozinha, não sei, o fato é que eu cochilei. Ele chegou, sentou na beirada da cama, me acordou de leve e, se inclinando sobre mim, pingou nos meus olhos. Escorreu um pouco e ele passou o dedo no meu rosto. Nesse momento... para quem não entendeu o primeiro parágrafo do post... esse foi o momento de “decolar ou abortar a decolagem”. Momento da razão que deveria imperar. E, com certeza, a minha razão estava dormindo... e eu decolei!

O que aconteceu comigo? Que extremo vacilo, bobeira sem tamanho, sei lá, fez com que eu desse um nó gigantesco em tudo? E a responsabilidade foi toda minha. Ele apenas respondeu ao que eu conduzi. Não posso nem dizer (a tão esfarrapada desculpa!) que eu havia bebido! Simplesmente, quando me dei conta, o “ponto de decisão” havia sido ultrapassado. Muitos de vocês podem estar pensando que estou fazendo um drama onde não existe. Pode até ser. Mas, eu não consigo ver de forma diferente. Não acredito que sexo e amizade sejam ingredientes que possam conviver no mesmo espaço. Estou errado?

Resumo: desde sexta-feira, quando voltamos pra cá, não consegui conversar ainda com ele. E ele também nem ligou. Constrangidos os dois? Decididamente, sei que eu é que devo provocar uma conversa com ele. Como conduzir isso? Esse fim de semana eu passei apenas pensando...


13 comentários:

  1. Olha, eu tenho três coisas a comentar. Primeiro, OVER THINKING. Conhece o conceito? Fala sobre ser racional o tempo todo, ser racional demais. Sobre pensar demais, sobre acreditar que nossas ações são baseadas somente na parte matemática da vida; mas usando sua metáfora em relação ao avião: o piloto sabe que está na velocidade certa para decolar pq ele faz um calculo? Ou pq ele observa um instrumento? Ou porque ele sente que está na hora de decolar? Um piloto inexperiente com certeza se utiliza de instumentos, mas alguém com anos de vento sobre suas asas não precisa mais disso. Então, vc não é mais nenhum menino, o que vc sentiu?
    Em segundo lugar, sexo com amigos é minha expecialização (o mestrado foi em sexo com héteros, o doutorado com desconhecidos). Portanto, DEIXEM DE FRESCURA. Vcs são amigos, tem uma puta intimidade um com o outro e vão ficar constrangios por isso? Pq estão com vergonha? Do que? Se foi somente sexo, só tesão na hora, pq a vergonha de admitir isso para si mesmos ou se foi algo mais (o que duvido), qual o medo de conversar sobre o caso?
    A terceira questão é essa: existe algo mais que amizade? Eu duvido, nenhum de vcs é criança para ficar nessa de esconder sentimentos um do outro a esta altura do campeonato. Ou estou enganado? Seria chocante imaginar que vcs tem um amor platônico ai que nunca dixaram florescer.
    De qualquer forma, concluindo: quando vc vi ligar pra ele para tomarem um café COMO SE NADA TIVESSE ACONTECIDO mesmo?

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  2. Oi Adriano...eu digo que ajuda psicológica é sempre bom, desde que vc esteja afim de fazer e que se identifique com quem aplica, pois só assim há progresso....eu fiz por muito tempo e acho ótimo, tanto que me interessei pelo assunto e fui estudar um pouco...mas, enfim, reportemos ao fato...

    Acho sim que você problematiza demais, mas isso é teu jeito, é algo particular teu e assim será, mas, é algo que pode ser contornado...você pode aprender a não sofrer por antecipação ou não relativizar tanto, não criar tantos cenários antecipadamente e nem achar mil meios de explicação para tudo nessa vida, até porque muita coisa na vida não há uma explicação lógica...
    Mas, sobre o que aconteceu entre você e teu amigo, é algo sim que você deve pensar a respeito, sobre o que fazer ou como falar com ele. Ter intimidade é algo que, por mais que sejamos como irmãos com um amigo, tem um limite, e que deve ser respeitado; e que se foi ultrapassado, deve ter sua dimensão reavaliada. Por mais que a carência seja grande, algo aconteceu, e vocês devem conversar sobre isso, sem medos, sem pré-conceitos e principalmente, com a maior paciência e sinceridade possível, afinal, amizade acima de tudo.
    Vocês se conhecem a tempos, e como mesmo disse, são quase que irmãos, e como toda família, as vezes isso acontece, e uma boa conversa, resolve tudo. Então, liga para ele, marca na tua casa ou na casa dele, ou em outro lugar, e sem medo nenhum, sentem e conversem, vai ser bom para ambos. Sejam sinceros, mesmo que a verdade doa, mesmo que ela seja dura, mas a sinceridade, quando bem colocada, serve de cimento para uma amizade, fortalecendo-a ainda mais.

    E, fora isso, mas no mesmo contexto....acho que seria sim uma boa oportunidade de você rever alguns pré-conceitos teus, sobre como se comportar, sobre amizades, intimidades e sobre como levar a vida....uma boa oportunidade, visto por tudo que você vem passando e que já passou...pense nisso...a vida é curta, merece ser vivida em toda a sua plenitude...as vezes ficamos colocando alguns limites, mas mais próximos de nós do que eles realmente deveriam estar....que tal ampliar um pouco essa distância???? Veja bem, não estou lhe dizendo para jogar tudo para o alto....mas podemos viver com um pouco mais de "flexibilidade"....que tal????

    Um ótimo ano para você meu querido, que 2014 venha com muita energia, muita paz e nenhum problema....vamos lá...viver esse ano em toda sua grandeza.
    Abraços.

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  3. Olha, eu curti muito a sua longa introdução sobre a decolagem, acho que exprime bem muitos momentos da vida da gente... Sobre o que aconteceu com o Claudio seu amigo, eu tb estaria muito constrangido, mas principalmente se eu quisesse que o lance se repetisse ou se eu estivesse nutrindo algum sentimento...Pelo jeito ele tb foi muito carinhoso com vc e estava planejando algo ... Pelo jeito vc vai ter que pilotar novas decolagens! abraços e já que 2014 começou tão diferente, muitas diferenças para vc neste ano!

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  4. Bom... difícil dar palpite em assuntos delicados. Mas uma coisa eu digo: fingir que nada aconteceu não vai mudar os fatos. Converse com ele e abra seu coração (quero dizer, seja sincero e não fique planejando tudo milimetricamente). Não fiquei só na razão. Viver a emoção tb faz parte da vida...

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  5. De uma forma geral, todos vocês entenderam o problema. Talvez eu esteja supervalorizando tudo... é o meu jeito. Um fator dessa “equação”, que eu não deixei claro nesse post, é que eu acredito que os sentimentos dele por mim vão além de uma amizade. Não sei até que ponto, todo esse tempo em que ele esteve comigo, o quanto ele sublimou algum sentimento que não o de simples amigo. E, por eu saber disso, não tinha o direito de “vacilar”. Agora, o leite já derramou, como se diz. Apenas eu tenho que resolver essa questão.

    Obrigado a todos pelos comentários! Suas palavras, como sempre, têm me ajudado muito. Uma ideia que anda me rondando é que, do meu jeito de ser, mesmo me sentindo sozinho, eu sempre consegui direcionar a minha vida. De uns tempos pra cá, desde o momento em que comecei o blog, e que significava me abrir mais para o mundo, não sei, parece que nada mais está dando certo. Talvez eu tenha que voltar ao meu antigo estilo de vida. Talvez exista essa coisa de destino e o meu é continuar tentando ser autossuficiente, ao meu modo. Tenho uma certa saudade quando só precisava pensar em mim mesmo. É uma receita que eu conheço de cor...

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  6. Uma frase em latim pra resumir : CARPE DIEM .Um cara desses ba sua vida , cama.... Perder tempo com psicologo ??

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  7. Escrevi o mundo a internet caiu, não foi e eu perdi... #mifudi

    Onde compra esse colírio, Braseeew!!! Quero uma caixa deles!!!

    Vamos parar de desespero??? Ok, a gente super-entende e se compadece com sua angustia (pelo menos eu sim) e não vou muito entrar na discussão acerca do quão possível é sexo com amigos.. Depende de vc, da circunstância, do amigos.. "n" coisas... O desfecho desse sexo a gente não sabe, só sabemos que não pode se tornar um tabu constrangedor que abra um abismo entre vcs, pq 20 anos não valem uma noite, por melhor que seja a foda!!!

    Por tanto o imperativo é.. FAÇA CONTATO, se não fez ainda, faça o contato o quanto antes, respire fundo, conte até cinco, aperte o send e marque um encontro. Vcs são amigos, são íntimos, são adultos, podem lidar com isso se houver boa vontade.

    Agora o que é flexível, maleável e discutível é o que de fato vão fazer disso.. Daí acho que deve ir com uma ideia pronta pra ser acrescida ou mesmo mudada em busca do que é melhor pra ambos. Sei que esse sexo te colocou uma situação onde o fator "preocupar com o outro" foi tão agressiva que acabou reconsiderando uma série de outras coisas, mas talvez o diabo não seja tão feio de perto, para de ficar vendo desenho em nuvens e faça o que precisa ser feito!!!

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  8. oi Adriano...

    Não, não sou psicólogo...fiz terapia por um bom tempo, e gosto muito da área, até mesmo no mestrado que inicie tempos atrás (e depois parei) eu estudava a área de criação, e por isso a psicologia estava presente...
    Mas, reportemos ao fato...acho que é mais uma questão de entender o outro...ou quem sabe, alguma prática por tudo que já passei...e tentar entender, ou ficar observando os outros, sempre foi algo que me atraiu muito...é bom...

    Espero mesmo que as palavras, minhas e dos outros, tenham te feito bem, desejo que você ache teu caminho, mesmo que ele possa parecer cheio de pedras, mesmo que possa parecer difícil, íngreme ou amedrontador...não importa, o que importa nessa vida é seguir em frente, não se prender ao passado e nem ao futuro, curtir o presente e aproveitar a vida de forma justa, fazendo o bem.

    Eu, agora, depois de alguns acontecimentos, digo que a vida é curta demais para colocarmos tantos problemas nela....eles sempre existirão, mas as soluções também, então, vamos lá juntar um ao outro....e assim continuar nosso caminho...

    Um grande abraço, meu querido...e quando quiser conversar, me manda um recado....se quiser, me passa teu email...(pode ser via comentário, eu leio e não publico).
    Abraços.

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  9. Eita, chegando aqui agora e já um bando de amigo te seguindo? Como não te conheci antes?? Prazer! :-)

    Não tenho muito a acrescentar à sabedoria do povo que veio antes de mim. Só perguntaria se o que você disse que o Claudio talvez sinta é real ou "achismo". Isso pode mudar muita coisa.

    Mas fora isso, estou com todos: conversem, conversem como sempre conversaram. Que a coisa se ajeita. :-)

    Beijo!

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  10. Li mais um pouco (sobre o pré-Natal e tal rsrs). Esqueça, portanto, a minha pergunta acima. :-)

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  11. Olha Adriano....a vida me ensinou, da forma mais dura possível, que é preciso "deixar ir", é preciso saber quando terminou, quando recomeçar, quando seguir em frente....confesso que já fui ao contrário disso tudo, mas fui aprendendo que existem ciclos, e devemos respeitá-los....por isso, por conta dos últimos meses, de tudo que me aconteceu, a vida é assim, saber aproveitar o máximo, saber receber e saber deixar ir.
    Tente....é complicado no início....mas comigo pelo menos, está valendo a pena!

    Abraços meu querido...vamos nos falando. Bjs.

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  12. Olha, ser autossuficiente não é, em hipótese alguma, a melhor opção. Ser autossuficiente é fugir dos problemas com relacionamentos que vc tem, fugir da ideia de deixar de ser orgulhoso e pedir ajuda, fugir do desafio que é lidar com a ausência do Zeca. Ser autossuficiente é fugir da raia, portanto, não! em hipótese esta é sequer uma opção pra vc.

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  13. Ok, comecei de trás pra frente e já vi que rolou a conversa e tal, mas vou dizer o que diria mesmo que ainda não tivesse rolado o papo entre vocês.

    Acho que sou maluco, uma voz dissonante, mas eu, em minha vida, não separaria tanto as coisas, se tivesse um amigo como você tem ao Cláudio. Ele é mais que um irmão. Mas não tem teu sangue. E isso abre outras possibilidades, muito além dos enquadramentos a que fomos habituados. Sem remorsos, sem culpas, sem medos.
    Mas apenas na medida do possível a ambos.
    O voo, muitas vezes, não é possível. Mas, quando é... a gente acaba chegando ao destino e vê que não foi nenhuma coisa do outro mundo.
    Mas isso é meu jeito de pensar.

    O que importa é você ser coerente e fazer o que te faz se sentir bem.
    Abração

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