sábado, 29 de março de 2014

Medo e Memória

Dois pensamentos, na verdade divagações, que tomaram conta de mim esses dias. O primeiro: cheguei à conclusão que tenho medo de algumas coisas. E, por paradoxal que seja, não se trata de algum medo ligado à morte. Não tenho medo de morrer. Talvez eu tenha medo de viver...

Um amigo me disse que eu tenho medo que o passado (e toda a maravilhosa experiência que vivi junto ao Zeca) não possa ser revivido, em qualquer nova experiência futura. Seria essa certeza a fonte do meu medo de, ao menos, procurar, ou tentar. Acho que ele tem razão. Não totalmente, pois sei que cada vivência é única e não faria sentido eu procurar um “algo novo” que fosse como uma cópia, ou reedição da vivência que se foi.

Sei que estou passando por alguns momentos particularmente incertos. Toda essa “novela” relativa ao problema nos meus olhos tem me consumido mais do que o aceitável. Esse pode ser um dos fatores que agudizam a sensação de medo que persiste. Porém, sejam quais forem as explicações, não sei como lidar com esse medo. Esse amigo me disse: simples, basta “se jogar”... ou, como outros também já disseram, “se permitir”. É tão simples de se falar ou ouvir! O problema, no entanto, é: como agir?

O outro pensamento girou em torno do tema “memórias”. O quanto do conteúdo das memórias que trago em mim, de certa forma, não permite que eu avance. Mais dúvidas! Grande parte das boas memórias que tenho, eu as sinto “fora de mim”. Quantas vezes o ar carregado de chuva, o cheiro de um perfume, a cor de uma determinada camisa, uma música... quantos detalhes do cotidiano tem esse poder incrível de me remeter de volta ao passado! Tudo parece como um “estoque armazenado de passado” e, mesmo que eu não esteja pensando, mesmo que esgotado até fisicamente pelas correrias do dia, basta um halo perceptivo desse gênero e... pronto, tudo retorna com uma força imensa! Será possível lutar contra isso?

Não sei onde li - deve ter sido em alguma dessas mensagens que recebemos por email (e que, a maioria, eu detesto... rs) - dizia mais ou menos assim: Quando agimos para compreender as raízes do medo, desde o seu veio central até o seu último filamento, é como se esse medo fosse reeditado. A partir daí podemos acrescentar novas experiências às janelas da memória e, onde antes havia medo, brotará a coragem de seguir. Muito lindo! Faltou anexar o manual de procedimentos! (rs)

“We found a place to which we drive
And I offer you the time
To sleep, to dream
To wake up when we arrive”


5 comentários:

  1. 1) "tem consumido mais que o aceitável", gente, porque vc ainda quer ser esse homem inabalável?
    2) você tem razão, vc nunca viverá o que teve com o Zeca de novo, pq o que vc teve com ele foi único
    3) você tem vivido somente do passado, das memórias de seu casamento, e se surpreende pq essas memórias voltam? Vc nâo tem costruído novas memórias, novos souvenirs, como espera evocar uma nova lembrança?

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  2. Meu amigo... com certeza viver é algo que dá medo!!!
    Sabe, eu penso que isso é um processo de acomodação... não é só medo, há um bocado de coisas envolvidas, talvez o medo seja o mais fácil de se identificar ou de rotular. Talvez esse post já seja um reflexo desse "se permitir", se você já se questionando ou pensando a respeito, é sinal de que no seu tempo tem procurado resolver tais questões.
    Memórias são complicadas.. não no sentido ruim, é que as vezes tudo é muito dolorido ainda, mas aos poucos as coisas vão chegando ao seu lugar, use essa força, essa energia, que elas trazem para se fortalecer, se curar e ter certeza de há novas memórias por conquistar.
    Como dizia minha avó: Tudo com tempo, tem tempo! ;-)
    Abração.

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  3. Estou lendo este post junto ao anterior ... então falar o que? Eu sinto q vc tem plena consciência de tudo o q te afeta ,,, falta mesmo é o manual de instrução específico para vc se libertar ... tive 3 momentos cruciais na minha já bastante longa vida ... o primeiro o manual foi conseguido com um amigo psicólogo ... funcionou para mim ... o segundo, a memória q eu tinha da terapia me ajudaram muito e aí aliei conversas com minha irmã q já se foi, com um amigo padre q tb já se foi e com um primo ... funcionou ,,, agora no terceiro uso tudo isto q já vivi e acrescentei a acupuntura ... tem surtido efeitos fantásticos ...

    Fica bem querido ... torcendo por vc e me colocando a disposição para qualquer coisa em q possa ser útil ...

    Beijão

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  4. Olá meu querido, eu estou bem sim... Melancólico? Nos meus escritos sempre....rsrsrs
    O medo de viver é estranho, pois são desafios constantes e quando nos bloqueamos por algum motivo este sentimento tão estranho se faz presente mais vezes! O que acaba com o medo? A coragem! Quando encaramos o medo ele se desfaz e percebemos que poderíamos ter perdido coisas preciosas por conta dele! Confesso que tenho sim muitos medos, mas eu atualmente tento enfrentá-los! É como um aposento na escuridão...ao acender a luz, as trevas acabam!
    Um beijo!

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  5. Tua frase "O problema, no entanto, é: como agir?" compreendo como o 'x' da questão. Como agir com o medo? E com a incerteza? Há formula, truques ou dicas?
    Não, não há! Podemos apenas tentar ressignificar os medos, as dúvidas e as memórias. E viver de melhor modo.
    Mas quem disse que é fácil?

    dentrodabolh.blogspot.com

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