domingo, 25 de maio de 2014

3 Anos



Amar é função do coração. Sei que isso não tem fundamento algum na “realidade”, que é tolice, que nada, nenhuma sensação, nenhum sinal manifestado quando se ama, jamais poderia indicar a participação ativa desse músculo que bate, tresloucadamente, durante nossa vida. Mas, perguntem a quem ama, ou já amou! Eu, na minha usual racionalidade, já me questionei sem encontrar alguma explicação. Talvez pelo fato de que o amor não é matéria de entendimento. Talvez nem de sentimento! Amor, eu penso, vai além de tudo o que conseguimos entender e sentir.

Lembro-me de nossos abraços. Naqueles momentos em que nos entrelaçávamos, era como se o coração de um pulasse pra dentro do peito do outro. E mesmo que um estivesse triste, ou cansado, ou desanimado, bastava um abraço longo e entregar o coração pra ser apaziguado pelo outro, que, em instantes, ambos já pulsavam num mesmo ritmo, numa mesma sintonia amorosa. E isso não se entende! Ou se vive, ou simplesmente não faz sentido algum. Quantas vezes eu disse a ele “hoje sou eu que preciso que o seu coração pegue o meu no colo!” Quantas vezes ele me disse “amor, pede pro seu coração falar para o meu que amanhã isso vai passar...”

O coração não sabe da morte. Ele apenas sente a ausência do outro coração que (ele não entende!) não está mais perto. A morte é função da consciência. A consciência sabe da morte, da absurda ruptura que ela representa. Ela sabe, ela entende. Mas, o que ela não sabe é como contar isso para o coração! A consciência não fala a linguagem do coração. Então, afastado do outro coração que ele tanto amava, ele se sente perdido. Talvez culpado, acreditando que cometeu algum erro e que isso afastou dele o outro coração. É tão difícil, em todas as noites que sucedem à morte, ouvir, bem baixinho, o choro quase imperceptível de um coração que não entende que o outro, o que se foi, jamais voltará!

Quando morre um amigo, um pai, um irmão, a vida continua natural, com uma dor que vive apenas na consciência de quem ficou. Sofre-se, dói, confunde-se os caminhos, mas é o tipo de sofrimento que se entende. Vive-se um luto que é possível tornar racional. A vida perde algumas cores, algumas tonalidades, mas o coração continua respirando. Quando o amor morre, o que fica é um coração solto, desavisado do que fazer pra recuperar o coração que morreu...

PS: Essa semana eu quis tanto me lembrar das últimas palavras dele! Tenho certeza que não foram os pedidos para que eu tomasse cuidado por estar dirigindo feito um louco em direção ao hospital. Depois de parar o carro, de passar a sua tosse, lembro que ele recostou a cabeça em meu ombro. Na hora em que chegamos, antes de o levarem na maca, ele falou alguma coisa. Meu Deus, não consigo lembrar! Será que o coração dele falou tão direto ao meu que, perdido no meu desespero, ele não conseguiu ouvir? (Semana difícil, com essa música grudada em mim!)

9 comentários:

  1. Eu nem consigo imaginar o pode ser esta dor ... fica bem amigo e q a vida te ajude a voltar a sorrir ...

    beijão

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  2. faz uma regressão pra e se descobre isso, gente?? Nãod a pra viver come ssa dúvida.. Zilhares de pessoas diria que é melhor ficar no coulto, mas minah estrutura neurótica não suporta...

    É tão difícil te ler Adriano, pq a vontade que agente tem é de te pegar no colo, mas não há colo, sabe?? Não há palavras.. Eu não quero pensar que essa dor é tão grande que não seja passível de ser sistematizada e reduzida, pensada, trabalhada,.. Acredito mesmo que pode se transformar e ser funcional, mas... Ela pode não ser impassível a transformação, mas ela é solitária demais e quanto a isso muito pouco podemos fazer que não um afago na torcida de que o calor dele aqueça esse coraçãozinho tão machucado.. Vc é um lindo!!

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  3. Uau!
    Queria conhecer o amor.
    Me conta como é, Adriano? Por favor

    (sim, estou chorando)

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  4. Lindo texto Adriano...lindo.
    Só quem já amou, sabe como é...só quem já amou...
    Se cuida meu querido.
    Abraços.

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  5. Texto maravilhoso! O amor é isso! Sem explicações, sem definições, é simplesmente amar. Cuide-se amigo, fique bem. Abraços.

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  6. Meu caro....relaxa...muito mais gente não entende meus textos.
    Confesso que escrevo de um jeito bem peculiar, e bem pessoal...por brincadeira, os conhecidos falam que o Edu escreve egípcio...eu devo escrever persa....kkkk.
    Mas, de certa forma os textos têm sequência...um pouco caótica, mas é como a minha vida, que é cheia de altos e baixos, de buracos e de caminhos lisos...enfim, saiba apenas que uso o blog para desabafar, e interagir/conhecer pessoas como você, com um coração enorme.
    Se cuida meu querido, fica bem....sempre.
    E pode contar comigo sempre que precisar.
    Abraços.

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  7. lindo texto,me emocionei ao ler... e tentei imaginar sua dor, sua solidão! fique bem! abs

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  8. Que triste! Meu ex também se foi depois de 4 anos... mas se foi em vida mesmo. Nada se compara a dor de nunca mais poder ver ou conversar com quem vc um dia amou/ama. Que vc tenha forças para poder amar novamente. Você ainda está vivo e o tempo está correndo. Viva o seu luto. Mas não deixe que ele te impeça de um dia viver novas histórias.
    Tô começando um blog, vamos ser parceiros? rs. Abração!

    http://produtopoetico.blog.com/

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  9. Em um dia assim, acho que muito pouco precisa ser dito.. mas muito pode ser sentido! Que a cada ano, a dor da saudade possa dar lugar ao calor da lembrança, e a certeza de que a vida segue, e que ele sempre estará contigo, onde quer que você vá.

    Que essa energia possa te dar forças para seguir a diante... honrando tudo de lindo o que vocês viveram.

    Um grande e forte abraço! Querido. ;-)

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