Dois anos com esse espaço; quatro anos que você se foi... hoje eu quero conversar com você, diretamente com você, meu amor, meu grande, verdadeiro e único amor.
Quando eu abri esse espaço, quando eu me senti capaz de
abrir esse espaço, foi para escrever sobre a gente, sobre as coisas boas e
ruins por que passamos, tudo o que sentimos durante o tempo que vivemos nosso
amor. E foi também uma forma de, registrando, estar próximo a você. Você,
constante presença durante os dias mais felizes da minha vida. Você, que não
tive coragem de ver naquele dia, nosso último dia, tão carregado de tristeza. Você,
cujas cinzas (não tive forças para exigir nada) me foram negadas! Vivemos,
sonhamos, amamos, lutamos, fomos um do outro e, no final, senti como se o
universo houvesse arrancado você de mim, como um castigo despropositado. Eu me
senti tão inútil nos dias que vieram depois! Um depois sem cara de futuro, um
depois que não possuía um depois!
Foram dias onde eu tentava disfarçar o espaço a mais na mesa,
afastando uma cadeira, como se você tivesse viajado. Quando sempre sobrava
algum alimento à mesa, pois eu, inadvertidamente, não havia reduzido as porções
servidas. Ou quando meus braços, desajeitados, sentiam a falta dos seus a
impedir meus movimentos mais amplos. Ou quando, mergulhado nas sombras, eu
fazia alguma pergunta a você, esperando uma resposta que jamais chegava. Eu
tinha tantas perguntas! Eu queria tanto que você pudesse, nem que fosse pela
minha imaginação, dar aquele sorriso lindo por achar que eu me preocupava
demais com tudo! Você não faz ideia do vazio que eu sentia!
De um jeito torto, ou inconsciente da minha parte, eu fiz
desse espaço o seu túmulo, aquele que não existe na realidade. E que, talvez
por isso, me fizesse tanta falta. Não um túmulo que fosse um monumento de
pedras frias, mas que fosse um lugar, como nosso cantinho, como nosso quarto, onde
eu pudesse sentir um pouco mais de você sempre que a saudade me sufocasse
demais. E onde eu pudesse ressentir as nossas alegrias. E onde eu pudesse (e
como doía cada vez que acontecia!) chorar, para além das nossas tristezas
vividas, a minha integral sensação de tê-lo perdido.
Em vida fomos uma ilha que nos bastava, tornada sem sentido,
desabitada após sua partida. E foi como um resto de ilha que, lentamente,
voltei a caminhar. No início, de forma tímida, como alguém que precisava
aprender a caminhar novamente. Muitos me apoiaram nesse processo, inclusive
você, tenho certeza! Aos poucos eu passei a entender que, de forma indelével,
você era parte de mim, que você morava em mim. Eu percebi que essa consciência
de ter você em mim nunca havia me abandonado. Nunca, nem ninguém, em tempo
algum, conseguirá me furtar de tê-lo como eterno morador no meu coração. Então,
não há resto, mas sim uma ilha que necessita abrir-se, novamente, a novos mares
e continentes.
Nesses dias, que alternam desafios e esperanças, venho
amadurecendo uma ideia: a de deixar pra trás esse espaço. Provavelmente não
será tarefa das mais fáceis. Há alguns dias ouvi essa música. Se eu pudesse, se
eu tivesse a capacidade de escrever algo que exprimisse os meus sentimentos,
agora que essa ideia de “ir embora” toma conta dos meus pensamentos, seria
exatamente como a letra dessa canção. Então, meu amor, minha vida, que repousa
em mim, é com ela que me despeço daqui. Sei que você entenderá. Mais do que
ninguém no mundo, você, eu, nós entendemos. Um dia (assim espero!) estaremos
juntos novamente...
PS: A todos que me acompanharam nesses dois anos, quero
expressar o meu grande orgulho, a minha mais profunda gratidão por, sempre, em
todas as circunstâncias, terem me apoiado com palavras de carinho, de aconchego
e de força (mesmo nas broncas). Aprendi muito sobre mim com vocês. É muito
provável que não voltarei mais por aqui. E, se alguém ainda quiser, ainda tiver
paciência para estar em contato comigo, eu estarei em outro espaço... será uma honra poder
continuar com vocês por lá!