quinta-feira, 25 de julho de 2013

Quando a dor teima em voltar

De vez em quando acontece algum momento, como um flash, e volta pra mim alguma parte da minha história. Desculpem! Eu vejo esse blog como uma forma de não deixar que essas lembranças se enraízem mais ainda. Então venho aqui e as trago à tona. Não sei se vocês entendem isso, nem é suposto que tenham que entender ou necessitem ter algum compromisso em me dar apoio, tá bom?! Óbvio que me faz bem ler o que vocês escrevem! E, podem acreditar, eu sinto que estou conseguindo lidar cada vez melhor com essas lembranças.

Hoje foi um desses dias. Um dia bem cansativo no trabalho, um tempo super feio, fechado, frio, chuva. Uma carga imensa de questões, que eu terei que resolver até segunda-feira. O trânsito parado, a chuva não dando trégua... acionei uma seleção aleatória de músicas pra tocar. Lá pela 3ª música, começa a tocar “Guillemots”. Não sei se vocês conhecem essa banda. É uma das minhas preferidas. O problema foi a música, naquele exato instante, naquela exata circunstância... e voltou pra mim um dos momentos mais tenebrosos que vivi na minha vida.

Fim do velório dele. Um dia muito parecido com o de hoje. Nossa, eu estava tão cansado, tão esgotado, mais de 24 horas sem pregar o olho, sem comer nada. Eu não tenho em mim detalhes de tudo o que aconteceu aquele dia... era como se eu estivesse vivendo um pesadelo, sem sentir o corpo. Não liguei para nenhum amigo meu. Só haviam pessoas da família dele. E eu, num canto, apenas a irmã dele vinha, poucas vezes, se sentar ao meu lado. Eu não tinha mais força alguma.

Durante 2 anos eu procurei encontrar alguma força pra conseguir enfrentar, sempre com alguma esperança, todo o drama que vivíamos. Mas, ali, quando só restava a constatação do fim, eu nem conseguia ordenar pensamento algum que ainda houvesse em mim. Eu, que havia largado o cigarro há muito tempo, naquele dia fumei 3 maços. Era automático. Era o que eu conseguia fazer! Não tive coragem (nem sei se essa é a palavra) de olhar pra ele no caixão. Como é difícil lembrar isso tudo!

No fim da cerimônia no crematório, todos se organizaram pra ir embora. Eu fiquei sozinho, sem conseguir atinar o que fazer. Entrei no carro, os gestos todos eram automáticos. Nunca, mesmo hoje, consigo lembrar o percurso que eu fiz. E foi quando, no meio do engarrafamento, da chuva, que começou a tocar essa mesma música que ouvi hoje. Não lembro exatamente o que pensei na época. Acho até que, durante mais de 6 meses, nem consegui pensar em muita coisa, fora o trabalho. Hoje, quando ouvi, eu soube!

Para quem voltava pra casa e, não importando o tempo que fosse, o cansaço que fosse, as angustias, os erros, as desesperanças, nada disso importando, pois sempre havia um abraço apertado, o contato com um corpo que continha todos os desejos, toda a alma, toda a verdade... esse simples ato que carregava e consubstanciava todo o nosso amor, esse ato não existia mais! Nunca, em nenhum dia que veio depois, eu senti um vazio tão real e objetivamente tão claro, como naquele dia, voltando pra casa, com a absoluta certeza que tudo havia acabado.

Hoje eu senti novamente. A diferença (será que isso significa alguma coisa?) é que eu consigo racionalizar e ter a coragem de escrever aqui. Agora, depois de chegar, tomei um banho quente, comi alguma coisa, entrei na net pra ver se encontrava essa música pra ilustrar o post. Bem... uma surpresa ao encontrar esse vídeo! Parece loucura, mas, em algum lugar do mundo, alguém fez um vídeo, num dia de chuva, andando por alguma cidade, e colocou de fundo essa música. Foi como se eu, agora, pudesse me ver naquele dia, “de fora”, eu como espectador de mim mesmo, naquela situação. Então, me acalmei e escrevi esse post.




PS1: Vontade de escrever pra pessoa que fez esse vídeo!
PS2: Puxei o vídeo para uma conta minha. Vou escrever pra ele agradecendo... é isso!


9 comentários:

  1. Adriano pode apostar que todas as pessoas que vem aqui no seu blog e deixam seus comentários te entendem muito bem e te apoiam. Cada vez que leio mais sobre sua história aumenta minha vontade de te dar um abraço e te confortar. Só posso imaginar como foi difícil para você essa o velório. Por si só já é um momento muito carregado e ainda mais quando vem o agravante de você ser considerado alguém totalmente secundário pela família dele.
    Se escrever aqui te faz se sentir melhor, então continua. Pode ter certeza que eu, assim como tantos outros, espero saber mais um pouco da sua história e te ajudar a passar por essa fase difícil.
    abraços meu amigo!

    ResponderExcluir
  2. A dor teima em voltar, mas voltará a cada dia menos dolorida. Um dia será a lembrança dos dias que viveram juntos, feliz por terem tido a coragem de viver o grande amor! Viveram, fizeram o que precisavam fazer.
    Se te faz bem escrever, escreva, publique. Pra nós, para mim, faz muito bem ler tudo isso! Uma página das dores mais pungentes que um ser humano pode sentir: a perda de alguém que amamos verdadeiramente.
    Segue em frente, meu caro! Muita força pra ti!
    Forte abraço

    ResponderExcluir
  3. Dolorido de se ler, mesmo para quem não perdeu um grande amor. Mas você conseguiu sobreviver, e acho que nesse processo, diante de um acontecimento tão impactante, creio que qualquer um se transformaria em alguém muito mais forte do que acreditava que pudesse ser.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi, Paulo! Deixa eu te perguntar uma coisa: você não tem um blog? Pelo seu perfil não aparece e eu sempre gosto de conhecer melhor as pessoas que, como você, vem até aqui de uma forma tão gentil.

      Abração

      Excluir
    2. Oi! Não tenho blog...abçs!

      Excluir
  4. primeiro, não peça desculpas jamais por escrever no SEU blog um momento triste pelo qual vc está passando. você, nem ninguém, é obrigado a estar sempre feliz e portanto nenhum blog tb é obrigado a falar somente sobre coisas alegres o tempo todo. dito isto, meu caro amigo, é com muito prazer que eu, pelo menos, te ofereço meu apoio e minha amizade, sempre que precisar, sempre que necessitar, conte com minhas palavras no pouco que elas possam te ajudar.
    sobre uma dor que torna a retornar, eu sei muito bem o que é isso, também convivo com isso, em outro prisma obviamente, mas sei que a melhor coisa para fazermos neste momento é realmente colocar isso para fora de algum jeito e o blog é um excelente canal para isso, continue escrevendo, muito, sempre que se sentir assim, prometo, pelo carinho que te tenho, que isso sempre vai te ajudar.

    ResponderExcluir
  5. Respondendo aos comentários de todos que, como já se tornou uma constante por aqui (que bom isso!), são sempre carinhosos comigo: eu só tenho a agradecer a vocês! É muito, mas muito bom mesmo, saber que, nesse mundo "virtual", eu posso contar com a atenção de vocês. Cada palavra de apoio é um ânimo a mais no sentido de que eu posso prosseguir com a minha vida.

    Obrigado a vocês!

    ResponderExcluir
  6. Olha... não sei se seria adequado dizer, que post lindo! Mas ele é muito bonito, por poder ser "sentido"... acredito que todos temos essas "chaves" que nos levam a momentos, a dias, e a pessoas que nos são queridas.

    Eu sempre fui de filmes, nunca fui "musical"... até que conheci uma pessoa, com ela aprendi a sentir as músicas e a "ver" suas letras... a pessoa se foi, mas as músicas ficaram... uma especial... que onde quer que esteja, ainda viro o pescoço e dou uma olhada em volta ao ouvir seu som.

    O Clipe é perfeito..

    Enfim, vim agradecer sua visita... espero que possa passar mais vezes pela estrada de tijolos amarelos, confesso que ela já foi mais animada, mas eu ainda insisto... e estou sempre por lá.

    E Fernando Pessoa é muito bacana, gosto muito dos seus escritos e de sua história também, apesar não ser um conhecedor profundo... e quanto ao Alex, acho que o conheço sim... kkk E, como você é bom observador, definiu bem o meu jeito... "enevoado"

    Volto mais vezes! Grande abraço!

    ResponderExcluir
  7. Juro que não sei o que comentar. Talvez seja porque me sinto meio chuvosos hoje...

    ResponderExcluir