quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

De tudo o que tivemos na vida (parte 3)

Eu sei que pode parecer estranho, nesse tempo atual, tão imediatista, tão “fast-food”, tão dominado pelo pragmatismo, digamos assim, alguém como eu, que vive mergulhado nesse esquema todo, confessar publicamente (rs) que gosta muito de certos “rituais” (ultrapassados?) de flerte, corte, namoro e... de casamento. Aliás, pra quem lê com um pouco de atenção o que escrevo por aqui, já deve ter percebido isso. Sei que existe um limite, uma linha divisória, entre um ritual sincero e de coração e algo mais “comercial” e forçado. E, portanto, vazio de sentido.  É muito tênue essa linha. Difícil trafegar por sobre esse ela... mas, quando conseguimos, é tudo tão lindo!

Os amigos, dos tempos da minha juventude (tão longe isso... rs) sempre diziam que eu “era pra casar”. Tudo bem que eu “aprontava” de vez em quando. Mas, o que eu sempre quis era ter alguém pra caminhar junto, compartilhar experiências, dividir pesos, somar alegrias, essas coisas. Quando eu conheci o Zeca e fui percebendo que ele tinha um pensamento muito parecido com o meu, a mesma forma de encarar as coisas, o mesmo jeito carinhoso de lidar com as pessoas... nossa!... foi como ganhar na loteria! E os “nossos tempos” batiam de uma forma tão harmonicamente compassada que, evidentemente haveríamos de terminar em casamento. Como nem tudo é perfeito na vida, não tivemos um casamento oficial, de “papel passado”. Em compensação... foram 5 casamentos extraoficiais (rs), sempre como forma de revalidar todo o nosso sentimento, o nosso compromisso tacitamente sempre declarado. O primeiro eu já contei aqui, foi na Disney... essas coisas que ninguém acredita! Dos outros quatro (sempre engendrados pelo elemento “surpresa”, e que era a melhor parte!) foi ele quem “organizou” o terceiro.

Eu fui convidado para ser padrinho de casamento de um amigo meu, em “parceria” com a irmã dele. E, como ele era divorciado e a noiva queria casar no religioso, marcaram a cerimônia na igreja anglicana, que celebra casamentos, mesmo de pessoas que se separaram legalmente. Os dois, ele e a irmã, conheciam a minha história com o Zeca. Inclusive haviam levantado a hipótese de sermos, nós dois, um “casal” de padrinhos. Eu achei que seria bem bacana, nós dois de “pinguins-padrinho” no altar (rsrsrs), mas o Zeca achou que seria forçar demais a “barra”. Acertados os detalhes (e que são muitos...), alguns dias antes, o Zeca foi comprar a roupa dele e não quis que eu fosse junto. Tudo bem, estranho, mas acontece. No dia do casamento ele cismou que não iria no meu carro, que eu devia ir com a madrinha e ele iria no carro dele. Um pouco mais de estranheza... sinceramente, eu não atinei que ele iria tramar alguma coisa.

Estávamos, eu e minha parceira no altar, eu “metido” num meio-fraque (não gosto nem um pouquinho, mas, sabem como é, a noiva queria...), num papo informal e discreto, esperando a chegada da noiva, quando ela me diz: “Olha quem vem chegando... contenha-se, ein!” Meu Deus! Era a visão do paraíso! Ele estava com um terno cinza-claro, lindo, lindo... camisa branca e uma gravata azul bem clarinho... era uma luz entrando na igreja! Comparar o contraste era inevitável: eu, pele clara, numa roupa escura e ele, aquela cor de jambo, numa roupa luminosa. Durante toda a cerimônia não consegui desgrudar meus olhos dele! Não dá pra descrever a sensação. Era uma mistura de orgulho por amar, angústia e medo de perder, vontade de parar o mundo, de fazer girar mais rápido... estávamos casando, pela terceira vez, sem dizer palavra alguma, apenas pela troca de olhares e de energia amorosa. Foi deslumbrante...

Depois da recepção (que passamos grudados, o desejo explodindo tudo!) ele ainda me reservara um pouco mais de surpresa: ele havia arrumado a mesa de casa com um arranjo lindo de flores, duas taças, um champanhe, que ele sabia que eu adorava, e brindamos. Ele não era muito de falar... se atrapalhava um pouco, principalmente estando emocionado. Naquele dia, talvez aproveitando o “clima” da cerimônia anglicana, ele me disse algo mais ou menos assim: ele queria que prometêssemos, não um amor eterno, um amor “até que a morte separe”... ele queria que caminhássemos juntos, o mais próximos possível, até um ponto em que, se algum de nós sentisse um peso maior do que o tamanho do nosso amor, esse seria o ponto que determinaria o fim. Um amor verdadeiro não poderia admitir o estar juntos, mesmo depois da morte dele mesmo. Então, a morte do amor é que deveria determinar o fim de um casamento, e não a morte física de um dos dois...

.......

... é, meu amor, essa foi mais uma das coisas que também não deu pra cumprir. E assim foi, até que a morte nos separou...


12 comentários:

  1. Own... E depois as pessoas tem coragem de dizer que o amor entre homens não é possível. O Zeca com certeza era um homem tão especial quanto vc, Adriano. Vc pode alegrar-se por saber o quanto o fez feliz enquanto ele estava vivo, e isso deve ser a melhor lembrança que vc deve guardar dele. Queria te deixar um abraço e desejar que vc reencontre o amor. Vc merece.

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  2. Pra "piorar" você termina com elbow?? AAAAAMOOOO... Emocionante teu relato.

    P.S.: Planos pra 2014 incluem tomar um café com certas ilhas que se acham sozinhas...

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  3. Oi Adriano.
    Lindo teu relato, é bom reavivar as lembranças...lembra que te disse que, quando chegar o momento certo, essas mesmas lembranças serão aquelas que vão ficar como algo bom e não como "algo pesado" do teu passado?
    Pois é assim meu querido...o amor de vocês não acabou e nunca irá acabar, lembre-se sempre disso, mas isso não o impede de ir caminhando, de não se prender ao passado, de não se sentir culpado por tudo que você fez ou deixou de fazer, afinal, você fez tudo e deixou de fazer tudo o que deveria ter sido feito ou deixado...nada mais do que o amar.
    A vida é isso...boas lembranças, algumas lágrimas e muito, muito sorriso.

    Recebi teu recado...retornei e prometo, como no recado, retornar mais...aguarde e confie...hehe.

    Abraços meu querido.

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    1. Eu continuo caminhando, sem dúvida. Acredito que já ultrapassei o ponto de não querer caminhar (nem sei se isso é algo tão positivo, mas eu considero). O que me incomoda (talvez a palavra não seja essa) é que as lembranças que deveriam ser alegres (pois se referem a coisas alegres) não são! É nisso que eu preciso trabalhar.

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  4. Será???

    A sensação que eu tenho é que vc tah pagando essa promessa, continua amando na mesma forma e proporção mesmo após a morte... A morte física não separou de fato, minha preocupação só é vc esperar esse amor enorme acabar pra se permitir de verdade, sabe??? Como se tentar fizesse com que estivesse descumprindo uma promessa, como se abrir realmente pra outra pessoa fizesse com que ele virasse um quadro na parede, como se o que o mantivesse ele vivo fosse exatamente esse buraco, pq esse buraco da ausência dele de alguma forma torta virou a presença e se vc tapa resta a lembrança.. O quadro e ai de alguma forma torta, mais uma vez, vc entende que ele morre!!!

    Dri, ele ajudou a fazer de vc um homem tão mais lindo do que já era... É tão injusto não compartilhar isso, quando pra ele mesmo havia uma consciência tão clara que o fim é o destino de todas as coisas. Quando disse não desejar uma relação em que as pessoas apenas convivem deixa caro que não queria uma relação que não tivesse outra motivação se não o amor e talvez hoje o que vc ainda mantém além de amor exista um pouco de pena, sabe?? Pena de deixar ir.. Pena com uma mistura de culpa por se sentir desleal de alguma forma... Tudo isso é muito pesado pra uma história muito leve...

    Pena é um sentimento muito medíocre, o plano era dar certo, vcs cresceram juntos, colaboraram um pro outro, agora lembre-se, o plano era dar certo e não coabitar com o silêncio, ele não gostaria disso vivo, imagino que muito menos nessas condições.

    Pensa nisso!!!

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    1. Gato, meu querido, eu entendo perfeitamente o que você diz. Você está coberto de razão, como sempre (rs). De alguma forma que eu não consigo entender (intuição?) eu sei que ele não gosta nem um pouco me vendo assim. Mas, acho que você deve saber, entre entender e sentir existe aí uma boa diferença, né!

      Existem alguns pontos positivos que eu acho que já conquistei, inclusive escrever por aqui é um deles... inimaginável há um ano atrás! Outra coisa é que eu não desisti, embora não esteja preocupado ou procurando feito maluco alguém pra viver comigo alguma história, sabe. Eu gosto, sei que preciso ter alguém comigo. Como eu disse, não “fui feito” pra viver sozinho. Também tenho consciência que não vou encontrar (nem gostaria!) um “Zeca #2, a missão” (rs). E, apesar de tudo isso, não encontrei ainda a “receita” que me faça não ter todos esses sentimentos quando penso nele. Será que o tempo vai me ensinar isso?

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    2. Se tah avançando, né???
      A tendência é essa... A gente fica ansioso pra responder, mas a verdade é que todos os processos que são fundamentais na vida demandam mais tempo do que a contemporaneidade costuma querer nos dar... Faça no seu tempo, só não deixe de fazer!!!
      Agora... Vc diz que não está procurando desesperadamente.. Fale mais sobre isso.. Tah procurando como??? Se permitindo como??? To de olho, hein!!!

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    3. Vc devia reler esse comentário do Gato todos os dias, só pra relembrar e yer coragem de dar mais um passo adiante.

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  5. Tua narrativa nos torna quase testemunhas desse momento e é muito inspirador mesmo, no mais... "tudo com tempo, tem tempo"!!! ;-)

    Grande abraço!.

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  6. Vocês vieram, você vive, a experiência mais linda e sublime que o ser humano pode viver!

    Quem ama como vocês se amaram (eu diria amam, mas... isso já envolve crenças), é e será sempre, feliz!

    As dores? Fazem parte, simplesmente.
    Bjs.

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