Já disseram que estar apaixonado é como mergulhar num lago
turvo, do qual não conhecemos a profundidade. Há sempre o perigo de um lago tão
raso, capaz inclusive de provocar alguma lesão física no intrépido mergulhador.
Como a paixão se delineia poderosa, a ponto de tornar possível escolhas radicais,
a maioria dos apaixonados vive, de certa forma, um drama interior, onde os
limites do razoável tornam-se muito tênues. Se assim for (não sou especialista
no assunto), posso dizer que nunca fui apaixonado por alguém!
Certa vez me perguntaram sobre quando eu teria sentido
nascer a paixão pelo Zeca. Eu respondi dizendo que o meu sentimento para com
ele era tão libertador que não deveria ser chamado de paixão. Para mim a paixão
sempre teve um significado de prisão, tanto em relação aos instintos, quanto à
necessidade, sempre urgente, da presença do outro. Ao meu sentimento por ele eu
sempre chamei amor. Desde os primeiros contatos, o desenvolvimento do conhecer-se
mutuamente e mesmo com relação à necessidade da presença física, nunca a razão
se sentia subjugada. Sei (e entendo) que o amor dito romântico é um fenômeno
historicamente determinado, por todo um processo blá-blá-blá... (rs) Até
concordo com isso, em tese. Porém, por meu entendimento, não conheço outra
forma mais adequada pra nominar o amor que eu senti.
Foi um “acender de luzinhas” à primeira vista? Foi! Mas que
não me levou a nenhuma loucura tresloucada e fora de propósito. Teve a sensação
do “pra sempre”? Teve! Mas foi algo que se construiu, lentamente, à medida que
conseguíamos nos conhecer cada vez mais, “mergulhando” mais fundo a cada novo
dia de convivência, enquanto, passo a passo, nos sentíamos confiantes o suficiente
para uma entrega mais ampla. Creio que só essa maneira de amar consegue
resistir ao tempo, ao fastio do cotidiano (queiramos, ou não, as rotinas são
nada “amorosas”) e, principalmente, nos leva a compreender e superar as
dificuldades (não gosto da palavra defeito) inerentes a cada um de nós.
Acho que já escrevi sobre como “encaro” o sexo, esse prazer
que se move pela busca, num outro, no corpo de um outro, o prazer que pertence
ao “eu” da relação. Quando conheci o amor ocorreu uma mudança (sem que eu me
desse conta) nessa minha busca. Eu percebi que, quanto mais prazer eu
proporcionasse a ele, quanto mais eu buscasse o prazer dele “nele”, mais meu
prazer era completo e extasiante! Mesmo porque eu sentia que ele buscava o
mesmo em mim, ao procurar o seu prazer. Essa “descoberta” aconteceu do nada,
como num passe de mágica? Não! Creio que ela também foi parte da construção que
descrevi acima. E, o que sempre me pareceu mais intrigante, ela foi sendo feita
exatamente pela desconstrução de todas as nossas projeções e idealizações de um
no outro! E foi a rotina, os pequenos fatos de nossa história juntos, os
responsáveis pela edificação desse amar, dessa vontade de dividir experiências,
desse permitir que participássemos, um da vida do outro.
Não tenho a pretensão (nem tenho qualificação para isso) de
analisar academicamente sobre esses assuntos. Escrevo sobre minhas
experiências, sobre como penso. Quando eu digo que sou romântico é assim que me
percebo. E isso não tem a ver com contos de fada, estórias de príncipes, ou
coisas do gênero. (rs) E, por que voltei a esse tema hoje? Talvez porque algo me
esteja “incomodando”. Algo como uma possibilidade de vivenciar outra
experiência, outra construção, que me force, de certa forma, a descobrir uma
nova faceta de algo que também pudesse ser chamado de amor. Como estou me
sentindo? Com medo...
“It's the
first day of spring
My life is
starting over again
Well the
trees grow, the river flows
And it's
water will wash away my sin…”
(Por essa música eu sou apaixonado…)
aprendo tanto com vc...
ResponderExcluirobrigado por continuar escrevendo
Jogue o medo fora e permita-se ... a vida é curta é ela deve ser vivida em plenitude e sem receios ... o não der certo simplesmente não deu certo ...
ResponderExcluirBeijão
Belissimo texto! eu me identifiquei muito, definir amor e paixao, dosar sexo! perfeito! parabens pela clareza! obrigado pro compartilhar!
ResponderExcluirDizem que todos nós nascemos sabendo amar e ao longo da vida aprendemos o medo, assim a grande "jornada" é desaprender a ter medo e aceitar o amor de volta em nossos corações, sendo esse o significado da vida...
ResponderExcluirAcho que todos nós temos medo... para alguns vez antes, para outros vem talvez um pouco mais tarde... Se você tem medo neste momento, penso que eu tive antes e isso me congelou por longos anos, quase que como uma maldição.
Se disser que não tenho medo hoje, estaria mentindo... mas hoje, tenho mais vontade de partilhar as dias e os momentos com alguém, de aprender, de viver...
Por isso, se pudesse te dar um conselho, diria que viva! Se há algo que o incomoda, investigue, não deixe que o medo o impeça, reza a lenda que "nossa salvação" está em nossos medos!!!.
Grande abraço! (E não há como não se encantar por essa música).
Aproveitando este momento tão especial fica o convite:
ResponderExcluir"Quem sabe um dia o Adriano sai da toca, junta os trapinhos, chama "aquele" amigo e vem refestelar por aqui ... levo vocês lá com o maior prazer ... [MV]
Beijão
Sua maneira de escrever me lembra muito alguém a quem eu muito "amava/amo". Até as músicas...(rs). Não o perdi, mas também não "o tenho". (rs).. De alguma forma, nada estranha, vocês dois/três..ou mais, se juntam, mesmo que separados. Confuso, mas não!
ResponderExcluirGostei da forma como você descreve seu prazer no prazer dele. Sempre senti e vivi isso.
Abraço