domingo, 12 de abril de 2015

Amar é...

Já disseram que estar apaixonado é como mergulhar num lago turvo, do qual não conhecemos a profundidade. Há sempre o perigo de um lago tão raso, capaz inclusive de provocar alguma lesão física no intrépido mergulhador. Como a paixão se delineia poderosa, a ponto de tornar possível escolhas radicais, a maioria dos apaixonados vive, de certa forma, um drama interior, onde os limites do razoável tornam-se muito tênues. Se assim for (não sou especialista no assunto), posso dizer que nunca fui apaixonado por alguém!

Certa vez me perguntaram sobre quando eu teria sentido nascer a paixão pelo Zeca. Eu respondi dizendo que o meu sentimento para com ele era tão libertador que não deveria ser chamado de paixão. Para mim a paixão sempre teve um significado de prisão, tanto em relação aos instintos, quanto à necessidade, sempre urgente, da presença do outro. Ao meu sentimento por ele eu sempre chamei amor. Desde os primeiros contatos, o desenvolvimento do conhecer-se mutuamente e mesmo com relação à necessidade da presença física, nunca a razão se sentia subjugada. Sei (e entendo) que o amor dito romântico é um fenômeno historicamente determinado, por todo um processo blá-blá-blá... (rs) Até concordo com isso, em tese. Porém, por meu entendimento, não conheço outra forma mais adequada pra nominar o amor que eu senti.

Foi um “acender de luzinhas” à primeira vista? Foi! Mas que não me levou a nenhuma loucura tresloucada e fora de propósito. Teve a sensação do “pra sempre”? Teve! Mas foi algo que se construiu, lentamente, à medida que conseguíamos nos conhecer cada vez mais, “mergulhando” mais fundo a cada novo dia de convivência, enquanto, passo a passo, nos sentíamos confiantes o suficiente para uma entrega mais ampla. Creio que só essa maneira de amar consegue resistir ao tempo, ao fastio do cotidiano (queiramos, ou não, as rotinas são nada “amorosas”) e, principalmente, nos leva a compreender e superar as dificuldades (não gosto da palavra defeito) inerentes a cada um de nós. 

Acho que já escrevi sobre como “encaro” o sexo, esse prazer que se move pela busca, num outro, no corpo de um outro, o prazer que pertence ao “eu” da relação. Quando conheci o amor ocorreu uma mudança (sem que eu me desse conta) nessa minha busca. Eu percebi que, quanto mais prazer eu proporcionasse a ele, quanto mais eu buscasse o prazer dele “nele”, mais meu prazer era completo e extasiante! Mesmo porque eu sentia que ele buscava o mesmo em mim, ao procurar o seu prazer. Essa “descoberta” aconteceu do nada, como num passe de mágica? Não! Creio que ela também foi parte da construção que descrevi acima. E, o que sempre me pareceu mais intrigante, ela foi sendo feita exatamente pela desconstrução de todas as nossas projeções e idealizações de um no outro! E foi a rotina, os pequenos fatos de nossa história juntos, os responsáveis pela edificação desse amar, dessa vontade de dividir experiências, desse permitir que participássemos, um da vida do outro.

Não tenho a pretensão (nem tenho qualificação para isso) de analisar academicamente sobre esses assuntos. Escrevo sobre minhas experiências, sobre como penso. Quando eu digo que sou romântico é assim que me percebo. E isso não tem a ver com contos de fada, estórias de príncipes, ou coisas do gênero. (rs) E, por que voltei a esse tema hoje? Talvez porque algo me esteja “incomodando”. Algo como uma possibilidade de vivenciar outra experiência, outra construção, que me force, de certa forma, a descobrir uma nova faceta de algo que também pudesse ser chamado de amor. Como estou me sentindo? Com medo...

“It's the first day of spring
My life is starting over again
Well the trees grow, the river flows
And it's water will wash away my sin…”

(Por essa música eu sou apaixonado…)


6 comentários:

  1. aprendo tanto com vc...
    obrigado por continuar escrevendo

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  2. Jogue o medo fora e permita-se ... a vida é curta é ela deve ser vivida em plenitude e sem receios ... o não der certo simplesmente não deu certo ...

    Beijão

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  3. Belissimo texto! eu me identifiquei muito, definir amor e paixao, dosar sexo! perfeito! parabens pela clareza! obrigado pro compartilhar!

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  4. Dizem que todos nós nascemos sabendo amar e ao longo da vida aprendemos o medo, assim a grande "jornada" é desaprender a ter medo e aceitar o amor de volta em nossos corações, sendo esse o significado da vida...

    Acho que todos nós temos medo... para alguns vez antes, para outros vem talvez um pouco mais tarde... Se você tem medo neste momento, penso que eu tive antes e isso me congelou por longos anos, quase que como uma maldição.

    Se disser que não tenho medo hoje, estaria mentindo... mas hoje, tenho mais vontade de partilhar as dias e os momentos com alguém, de aprender, de viver...

    Por isso, se pudesse te dar um conselho, diria que viva! Se há algo que o incomoda, investigue, não deixe que o medo o impeça, reza a lenda que "nossa salvação" está em nossos medos!!!.

    Grande abraço! (E não há como não se encantar por essa música).

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  5. Aproveitando este momento tão especial fica o convite:

    "Quem sabe um dia o Adriano sai da toca, junta os trapinhos, chama "aquele" amigo e vem refestelar por aqui ... levo vocês lá com o maior prazer ... [MV]

    Beijão

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  6. Sua maneira de escrever me lembra muito alguém a quem eu muito "amava/amo". Até as músicas...(rs). Não o perdi, mas também não "o tenho". (rs).. De alguma forma, nada estranha, vocês dois/três..ou mais, se juntam, mesmo que separados. Confuso, mas não!
    Gostei da forma como você descreve seu prazer no prazer dele. Sempre senti e vivi isso.
    Abraço

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