quinta-feira, 9 de abril de 2015

Vida Que Segue

Ontem ele foi embora. Depois desse tempo todo em que esteve comigo, tendo sempre uma paciência quase infinita (reconheço que fico – ou será que sou? – um ser absolutamente chato quando tenho algum problema físico!), foi tão estranho voltar sozinho pra “casa”. Eu tenho uma grande dificuldade para me ajeitar em um lugar que não seja “meu”... além do que eu já havia me acostumado a ter alguém com quem conversar, tomar um café, um chá, antes de dormir... além do que... isso tá parecendo o muro das lamentações (rs). 

Demorei pra dormir, quase me atrasei para acordar, o trabalho não rendeu. Aliás, está sendo muito difícil esse ritmo lento por aqui, as pessoas parecem não querer me sobrecarregar. Praticamente tudo já chega sem grandes problemas, quase sempre com a necessidade apenas de aprovação, com raros retoques. Entro e saio no horário, sem correria. Sei não, mas acho que não fui feito para esse tipo de maré mansa. Dois parágrafos e continuo reclamando! Chega de mimimi...

No aeroporto, na hora do embarque, ele apenas disse: me dá um abraço? Não sei o que senti. Um pouco de tristeza, um pouco de vontade de querer que ele não fosse. Sei que ele suspendeu a própria vida, seu trabalho, deixou tudo pra ficar comigo. Sou grato por isso. Mas, o que senti vai um pouco além. Devo estar procurando o sentido desse meu sentir, o sentido da minha vida. Há algum tempo atrás eu não hesitaria em dar força pra que ele voltasse a se dedicar mais à sua própria vida. Hoje, não sei o que pensar. Eu queria ter falado alguma coisa, eu tinha (tenho) muita coisa pra falar. Na hora não saiu nada, além do abraço apertado. Foi diferente aquele abraço.

Sábado, um pouco antes de irmos pra cama, ele, pela milionésima vez, disse que gostava muito de mim e queria que eu tivesse certeza que sempre, em qualquer hipótese, eu poderia contar com ele. Engraçado, eu achei que ele estava mais forte, mais sereno... nossa, como estou atrapalhado pra descrever o que ando sentindo! A gente se conhece há 20 anos, confiamos cegamente um no outro, temos uma relação absolutamente franca e aberta. Mesmo assim, eu sinto algo diferente nele. Será que ele amadureceu mais que eu nesses últimos tempos? Será que estou com algum remorso por saber do seu sentimento por mim e, durante esses anos todos, especialmente agora, ainda não ter dado uma chance? Será que eu o faço sofrer?

Hora de ir pra cama, que amanhã é um novo dia...

“Dusk trims the sound from the fading day
To the whispering banks
And what the summer frogs say
We know this river in different ways
But we love it the same, we love it the same
We need it the same, I think I need it more every day…”


3 comentários:

  1. Belas indagações... Pra mim, vc tá no caminho certo: se indagar mais sobre o que VOCÊ sente do que sobre o que vc especula que ele possa estar passando/sentindo...

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  2. Na multidão, um homem pontapeou disfarçadamente uma pomba muitas vezes antes de recolhê-la.
    Há uma só vida e envolvê-la-emoa com escamas, há uma só vida e cobri-la-emos com palavras dos outros, apalpa-la-emos dissumuladamente várias vezes, antes de decidir que a queremos. (A VITÓRIA DOS DESOBEDIENTES, Omar Peréz)

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  3. Tudo tem seu tempo certo meu amigo ... ele te esperou e te espera pacientemente ... talvez tenha chegado a sua hora e assumir alguma atitude mais concreta ... só supondo por aqui ...

    Beijão

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